Durante a Expodireto 2020 o projeto Aquarius celebrou seu 20º ano de pesquisa, formação de recursos humanos, desenvolvimento de tecnologias e ações de extensão. Um marco e tanto, pois manter por tanto tempo, de forma contínua e ininterrupta, um projeto de inovação com parceiros da iniciativa privada e pública não é algo corriqueiro no Brasil e nem mesmo internacionalmente. Na Expodireto, o projeto apresentou aos produtores, consultores e público em geral os resultados e avanços alcançados até esta etapa. O projeto proporcionou a formação de um ecossistema primeiramente com as empresas que o integram (Stara, Pioneer, Cotrijal, Fertiláqua e Drakkar) mas, em seguida, também com entidades e empresas que tinham objetivos similares como Sindicato Rural e Prefeitura Municipal de Não-Me-Toque, Sistema Senar/Farsul, Ministério da Agricultura, Cooperativas, sites de notícias, Falker, entre outros, fato que possibilitou importantes ações que expandiram de forma exponencial o impacto do projeto para um patamar muito além do projetado inicialmente.
Ao longo da sua trajetória, destacam-se a formação direta de mais de 130 recursos humanos especializados em AP (iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado), a incubação ou inspiração para criação de nove empresas especializadas em AP, os títulos de Capital Gaúcha e Nacional de AP, a criação do Congresso APSUL América que com 10 anos já realizou 5 edições e tornou-se o evento de AP com o maior número de participantes no país (800 por evento), lançamento de 1 livro contando a história do projeto e de 2 e-books com os trabalhos apresentados no APSUL, criação do mestrado profissional em AP que já completou 11 anos com a titulação de 74 mestres e a criação do Curso Técnico em AP em 2019, ambos na UFSM, desenvolvimento de 10 equipamentos precisos pela parceira STARA. Destaca-se ainda a colaboração científica com o INTA (Argentina), Embrapa (Estação Experimental de Fruticultura temperada, Universidade de Wageningen (Holanda) e UFRGS (Depto de Plantas de Lavoura). Quanto a produtividade de soja, a área pioneira do projeto (talhão Lagoa com 132 ha) na média de 17 safras de soja (2000-2019), sem irrigação, apresentou um incremento em relação à média estadual de 47% e em relação à média nacional de 21%. Estes números integrados representam que no período de 17 safras colhe-se com o uso de tecnologias 3.5 safras a mais considerando a média nacional e impressionantes 8 safras em relação à média estadual (RS). Com isto, evidencia-se o grande potencial de incremento vertical da produção de grãos em nível nacional e estadual pelo uso da inovação tecnológica.
Ao longo de vinte anos o projeto se destacou pela adoção/desenvolvimento de tecnologias como semeadura precisa, ajustes de população de plantas por ambiente, fertilização nitrogenada com base em sensores de vegetação, taxa variável de fertilizantes e corretivos, formação de perfil de enraizamento profundo, descompactação mecânica e biológica do solo, sobressemeadura de culturas de cobertura, definição de ambientes de produção, utilização de condutividade elétrica e outros sensores de solo, telemetria, tráfego controlado, pulverização precisa, co-inoculação e inoculação de insumos biológicos, gestão avançada de atividades entre outras. Cada uma delas tem um fator aditivo na produtividade, mas quando integradas é que realmente impulsionam e explicam os ganhos de produtividade apresentados. Para os próximos anos, a revitalização biológica do solo está no horizonte do projeto. Novas ferramentas como a avaliação de enzimas (glicosidase, sulfatase e fosfatase) e o uso de biomarcadores (DNA do solo) já estão sendo utilizadas no projeto e revelaram a necessidade premente de incrementar a saúde do solo e das plantas nos ambientes de produção. Os resultados destas análises preliminares indicaram que a pressão de patógenos (Macrophomina e Fusarium) está elevada e a resiliência (adaptação a situações de estresse) do sistema solo-planta está baixa. O Azospirilum, por exemplo, tem a capacidade de sintetizar vários destes hormônios que estimulam o crescimento vegetal.
Porém, se o ambiente encontra-se biologicamente desequilibrado, as plantas também terão baixa síntese de hormônios vegetais (biorreguladores como a auxina, giberelina e citocina e de ácidos abscísico e salicílico) ficando mais susceptíveis ao ataque de patógenos e com baixa adaptação a estresse abióticos (seca). As análises biológicas ainda têm um uso incipiente na AP. Incorporar gradualmente esta ferramenta permitirá caracterizar de forma mais assertiva os ambientes de produção e, principalmente, identificar as causas do tão distinto desempenho das plantas nesses ambientes e entre lavouras na mesma ecorregião. O uso de drones, de imagens de satélite e plataformas digitais que possibilitam o acompanhamento com frequência semanal ou quase diária das lavouras permitirão que a planta seja um indicador integrador dos processos anteriormente descritos aproximando definitivamente as etapas de diagnóstico, intervenção sítio-específico e aferição do grau de sucesso. Finalizando, o projeto Aquarius estará sempre em busca da aplicação em grande quantidade do mais importante insumo da agricultura, que é o conhecimento aplicado por metro quadrado ou por planta (Dirceu Gassen in memorian).
Por: Telmo Amado, coordenador técnico do projeto.